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segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Zé Catarino satisfeito com tudo o que alcançou em 19 anos de carreira

Zé Catarino, jogador da Académica de Espinho e capitão da Selecção Nacional de Hóquei de Sala, é considerado, por muitos, como o melhor jogador português de sempre, nesta vertente.

Em entrevista ao "ND", numa fase em que a Selecção Nacional prepara o Europeu de Hóquei de Sala, Divisão B, em Copenhaga, na Dinamarca, o atleta adianta a sua saída dos "linces" em Hóquei em Campo, e pondera fazer o mesmo em relação ao Hóquei de Sala.

Em retrospectiva, Zé Catarino mostra-se satisfeito com tudo o que alcançou em 19 anos de carreira e destaca a presença num Mundial de Hóquei de Sala e a obtenção de uma medalha num Europeu, quer de selecções, como de clubes, como os principais objectivos nunca concretizados.


ND - Como surgiu o Hóquei na sua vida?

Zé Catarino - Entrei no Hóquei aos onze anos. Praticava Trampolim na Académica e, entretanto, o meu pai treinava grupos de miúdos nas redondezas de Espinho, onde também se organizavam vários torneios. Num desses torneios faltava um jogador para que ninguém jogasse com menos um e a própria equipa falou com o meu pai para ver se eu podia jogar. Foi a primeira vez que joguei sem nunca sequer ter treinado. A partir daí gostei e comecei a treinar Trampolim e Hóquei. No ano seguinte optei pelo Hóquei. Já lá vão 19 anos na modalidade.

ND - Está satisfeito com a opção que fez?

ZC - Para a modalidade que é e para as condições que temos, tenho de estar satisfeito com o que consegui, mesmo sabendo que podia ter ido mais longe. Falo nomeadamente numa participação num Mundial de Hóquei de Sala, bem como de um pódio na Divisão A da Taça dos Campeões de clubes ou de um Europeu de selecções, também em Hóquei de Sala. Talvez se tivéssemos tido mais participações seguidas na Divisão A isso fosse possível. Por exemplo, a nível de clubes, a única vez que lá tivemos ficámos no quarto lugar. No Hóquei em Campo também podia ter chegado mais longe. Em alguns anos, a Federação fez más opções nas provas em que quis participar para além de pensar nelas já em cima da competição. Agora já se está a tentar fazer algo de diferente, com as coisas a serem definidas atempadamente.

ND - Parece falar com um sabor amargo...

ZC - Em relação ao Hóquei de Sala, fica algum sabor amargo. Penso que já poderíamos ter alcançado outros resultados. Lembro, por exemplo, que a Académica de Espinho já conseguiu um quarto Lugar na Divisão A. Penso igualmente que em termos de Selecção, se tivesse existido outro tipo de aposta, tínhamos jogadores para ter chegado mais longe do que uma mera participação na Divisão A. Pode-se pensar assim ou pensar-se que sou ambicioso de mais... tivemos duas oportunidades de ir ao Campeonato do Mundo mas falhámos ambas as vezes. Em termos de campo, Portugal sempre teve bons atletas, mesmo na geração anterior à minha, só que não havia uma noção táctica como existe agora, muito por culpa da inexistência de sintéticos na altura. Neste momento, mesmo com poucos sintéticos, os jogadores evoluem mais. Jogamos Campeonatos da Europa ou apuramentos para Europeus em sintéticos sem termos treinado uma única vez nesse tipo de piso. Por isso é que o Hóquei de Sala português teve sempre resultados superiores ao Hóquei em Campo.

ND - Fala-se também da sua possível saída das Selecções depois deste Europeu...

ZC - A questão em volta da minha continuidade é simples. Muito provavelmente poderá ser mesmo a última participação pela Selecção de Hóquei de Sala, mas ainda não sei qual será a minha decisão definitiva, apesar de cada vez mais colocar a hipótese de este ser o último torneio oficial. Essencialmente por motivos profissionais e pessoais, mas também porque sempre levei o Hóquei com bastante seriedade, traçando objectivos ambiciosos. Nestes últimos anos noto algum desinteresse federativo pelo Hóquei de Sala, o que até pode ser compreensível, atendendo que se trata de uma variante do Hóquei em Campo. Por exemplo, mais uma vez estamos a ter uma preparação que não se adequa à qualidade dos jogadores que temos e ao objectivo pelo qual temos que lutar, que, a meu ver, é a subida à Divisão A. Existem falhas em termos organizativos que já não deviam acontecer, em aspectos que por vezes até deveriam ser automáticos.

ND - Comenta-se que o próprio calendário não ajuda à preparação...

ZC - Acho que em termos de selecção o calendário foi bem feito. Acabou o Campeonato Nacional e eventualmente algumas quezílias e outros problemas que infelizmente em Portugal há sempre e houve um espaço para os atletas descansarem. Retomou-se depois o trabalho só da Selecção o que é bom. Internamente, já nos conhecemos bem e competir só por competir não iria trazer grandes benefícios. Para além disto, o tempo de preparação acho que é o adequado já que não precisamos de mais tempo para termos uma preparação de qualidade. O importante é ter vários jogos internacionais. Neste sentido, nota-se que não há uma grande aposta no Hóquei de Sala. Num mês de preparação era importante ter uma primeira semana de preparação física e para as questões técnicas e tácticas e o restante para fazermos os mais variados encontros internacionais. Com esta questão toda do calendário e da Selecção, a equipa mais prejudicada acaba por ser a Académica de Espinho. Há um grande espaço entre o Nacional de Sala, a Selecção e a Taça dos Campeões Europeus. Para nós, clube, é complicado arranjar equipas para nos prepararmos.

ND - Apesar dessas condicionantes, até onde pode Portugal chegar?

ZC - Portugal tem todas as condições para ficar nas duas primeiras posições do grupo e lutar pela subida à Divisão A. No entanto, numa Divisão B, todos os jogos são complicados. Pode pender para um lado ou para outro... podemos ficar nos primeiros lugares como igualmente ficarmos nos últimos. O facto do Europeu ser na Dinamarca é bom porque traz boas recordações a Portugal. Já tivemos bons resultados, quer a nível de clubes, quer a nível de Selecções. Pode ser um bom prenúncio.

ND - Se a continuidade na Selecção de Hóquei de Sala é uma hipótese, na Selecção de Hóquei em Campo está posta de lado...

ZC - Já informei a Federação que, em Hóquei em Campo, não estou disponível para jogos oficiais da Selecção. Eventualmente, dependendo do esforço que me for exigido, estarei disponível para fazer uma ponte entre a última geração, a minha, e a próxima. Custa sair das Selecções, tanto de Hóquei em Campo como em Sala, até porque já são largos os anos ao serviço de Portugal e sempre com muito gosto. Por outro lado, também vemos que atrás há outros jogadores com capacidade para ficar com a nossa posição. Obviamente que, até aqui, sempre que fui chamado respondi, até porque se o treinador nos acha capazes, é porque estamos aptos. Mas o facto de estarmos presentes pode impedir que outros mais novos ganhem uma posição e Portugal tem pessoas novas que podem dar qualidade à Selecção.

ND - Referiu que já há alguns anos representa Portugal. O que é para si jogar na Selecção?

ZC - Sempre gostei muito da modalidade e a partir daí sempre tive gosto de a representar como um todo. Por isso, muitas vezes somos obrigados a fazer alguns sacrifícios a todos os níveis. Ainda assim, acho que esses sacrifícios não contam muito porque é um orgulho representar Portugal. Não entendo como há pessoas que não querem jogar por Portugal por preferirem estar em casa, no sofá, a ver televisão.

ND - Como acha que as outras pessoas da modalidade olham para o Zé Catarino?

ZC - Não sei (ndr: risos), espero que olhem com bons olhos. Do que me recordo, não tenho qualquer problema com quem quer que seja, muito menos inimigos. Sempre me dei bem com toda a gente. Felizmente, para além das pessoas da Académica, que são como família para mim, tenho amigos e bons amigos em todas as equipas. Independente do meu futuro na modalidade, sei que vão continuar a ser meus amigos. Dentro de campo defendo as minhas cores e dou o melhor. Ao contrário de alguns, não vejo nas equipas adversárias inimigos porque não é a minha forma de ver e estar no desporto. Apesar disso dou sempre o máximo.

ND - Mas tem a noção que é uma referência na modalidade?

ZC - Tenho alguma noção, mas não acho que seja uma referência. Noto que algumas pessoas mais novas, talvez mais pelo Hóquei de Sala, têm um carinho especial pelo meu valor dentro do campo. Não deixa de ser reconfortante olhar para trás e vermos que temos uma carreira que outras pessoas dão algum valor.

ND - Para si, a sua actividade profissional condiciona a actividade desportiva?

ZC - Para mim, é cada vez mais complicado conciliar o desporto com o trabalho. A idade vai passando e as responsabilidades aumentam. Em termos profissionais, felizmente, têm aumentado de ano para ano. Tudo isso traz um cansaço bastante grande. Trabalhar num banco pode até não ser, teoricamente, um trabalho árduo, mas existe bastante cansaço psicológico e stress inerente à profissão que vai criando um desgaste grande. Para além disso, agora as preparações são cada vez mais exigentes e isso torna-se complicado para gerir. Depois há outro problema, tenho dispensa para as provas oficiais, mas nas preparações tenho que meter férias. Como, felizmente, nos últimos anos, temos tido vários jogos e torneios internacionais, complica bastante a nível profissional. Como consequência disto, já há vários anos que não tenho férias propriamente ditas.


PERFIL:

Nome: José Alberto Barge Catarino
Idade: 30
Internacionalizações AA: 80
Clube: Associação Académica Espinho
Posição: Médio

Palmarés:

Ao serviço da Académica de Espinho:

- 9 Campeonatos Nacionais
- 3 Taças de Portugal
- 1 Supertaça
- 1 Taça das Taças (Divisão C)

Ao serviço da Selecção Nacional:

- Medalha de Prata no Campeonato do Mundo (Divisão B) em 1999
- Medalha de Bronze no Campeonato do Mundo (Divisão B) em 2003


Por Tiago Marques, jornalista "Norte Desportivo"